Entrevista com Roberto Preto de Oliveira (Roberto Preto).
Passo de carro todos os dias pela Vila São José. Nos poucos minutos em que atravesso o bairro, não dá para notar o “modus-vivendi” das pessoas que moram ali. Andando a pé, percebe-se, ao lado de casas bem construídas, moradias simples que abrigam um povo laborioso mas que tem como meio de sobrevivência, a atividade braçal sobretudo no ramo canavieiro. Rostos desanimados perambulam pelas ruas e se “dependuram” nos botecos à espera de uma pinga grátis. Haverá maneira de elevar o nível desta gente? Claro. Através de um bom programa que leve capacitação profissional, associações de bairro, auto-estima, etc.
Vejo no bairro poucas praças. Isso o torna muito uniforme, nivelando-o por baixo. A qualidade de vida é relativa e com poucas chances de melhorar, nestas condições.
Vamos à entrevista:
Roberto Preto de Oliveira, o “Roberto Preto”, habitante do lugar, artesão, casado, uma filha estudando direito, outra estudando curso fundamental, é alguém que se sobressai na região. Neto de Portugueses, vindos para Bragança Paulista no século XIX. Seu pai nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo. Roberto nasceu em Palmital.
Arauto - Quando começou a fazer artesanato?
Roberto - Faz dez anos. É talento pessoal. Prefiro trabalhar com madeiras.
Arauto - Qual a obra mais importante que já fez?
Roberto - É um relógio entalhado num bloco de madeira.
Arauto - Tem encomendas para seu artesanato?
Roberto - Nossa cidade é uma cidade fraca para valorizar o artesanato. Não há poder aquisitivo. Não se dá valor ao trabalho artesanal. Quero direcionar meu trabalho para o entalhe de portas, mas preciso encontrar os instrumentos certos e que não encontramos aqui, por exemplo as “goivas” para entalhar.
Arauto - E a Vila São José? Mereceria mais atenção?
Roberto - O que precisamos é de mais emprego. Estamos um pouco abandonados. Pouca gente se interessa por nossas condições. O que sobra é o trabalho braçal.
Arauto - Uma associação de bairro, talvez?
Roberto - Já tentamos mas o povo é muito desunido.
Deixamos o Roberto recebendo mercadorias para o bar onde trabalha.
Um fato chamou-me a atenção. O caminhão que trazia a mercadoria estava com a carga a descoberto e com a maior confiança do entregador. Mesmo em um bairro pobre é hora de valorizar este detalhe (honradez) e de dar condições de cidadania a esta gente.