Entrevista com Romualdo Costa
(História de Vida)
por Eleutério Sousa
Tarde serena. No CDHU, em uma casa simples de esquina, frente à creche, aí está o Sr. Romualdo. Pequeno, atarracado, bonachão, olhos claros, bondosos, que nos miram com confiança. Um dos últimos representantes da tradição cabocla de nossa terra.
Nascido no Palmitalzinho, na fazenda dos Cardoso, “Seu” Romualdo, na esteira das crenças passadas de geração em geração, diz sentir premonições, “visões”. Diz que foi salvo por um anjo: “Em uma tempestade, um “corisco” fez desabar um barracão onde eu estava e, desmaiado, senti o contato de um anjo que me transportou para longe do perigo”.
Foi Congregado Mariano e sente uma força invisível que desde criança passa às pessoas. Na sua casa, vêem-se pessoas pedindo-lhe o “benzimento”; tradições seculares da religião popular!...
“Seu” Romualdo tem veia artística. De troncos e madeiras produz arte: passarinhos, animais, carrinhos de mão, etc... uma arte “ingênua”, primitiva, palpitante...
“Aposentado morre mais cedo” diz. “Por isso me dedico a este passatempo, inspirado por São José, carpinteiro, que me ajuda do alto”.
"Deram-me uma carroça para transportar as madeiras com que faria meu artesanato".
"O Sr. Anízio Zimermano me facilitou as coisas, montando um rancho para trabalhar. No começo fiz um Pica-Pau (sua primeira obra de arte) depois “desembestou” – suas palavras - ... carrinhos de boi, prensa de cana, sempre com a ajuda de São José!"
Pinta seus artefactos, caprichosamente, delicadamente.
Dá gosto ouvir e testemunhar sua fé. Lembra de sua esposa que na hora da morte lhe disse “tchau” segurando-lhe a mão. “Previu a hora de seu passamento”. Lembra com saudade a vida a dois com “Izilda”.
“Nunca tive uma desavença com minha mulher. 35 anos de pura benção”. “Ao contrário dos casamentos de hoje, que se separam por nada”.
Romualdo tem 4 filhas e 4 netos.
Passaríamos horas ouvindo estórias e tradições que não existem mais. A pura tradição cabocla, cheia da sabedoria de gerações que enfrentaram o mato e seus mistérios!
O seu dom de “benzer” vem de sua avó – acha. Conta que uma senhora o “viu” em criança, acompanhado de 7 anjos, acha que vence suas tribulações com a proteção do alto.
Conformado, lembra de sua esposa, embora a saudade lhe esteja dando uma dor no coração. Acha que é depressão. Mas, confiante, pensa que logo acaba. Não esquece o seu Adeus, mas diz: "O Pai “chamou ela”, o lugar dela é com Deus, para nos ajudar, e “olha” já ajudou minha filha mais nova no parto! Tenho mais um neto lindo!"
Nesta cidade de vida tranqüila, reminiscências de outras épocas, da pacatez de outrora. Aí está “Seu” Romualdo, um senhor aposentado de bem com a vida, dinâmico e feliz a seu modo. Um exemplo para todos nós!
“Seu” Romualdo mora na Rua Jerônimo Alves Jr., CDHU, Palmital, SP.