quinta-feira, abril 17, 2008

Esteira de espuma (continuação)

Uma viagem marítima tem um sabor único; entre mar e céu, “cavalgando” as ondas, o navio segue o seu rumo. Minuto após minuto, hora após hora, dia após dia, aparentemente “um cavaleiro errante”, a nave imensa “traça” sua rota!

Alheia à máquina que navega, cruzando o oceano, a vida fervilha, faz nascer encontros, conhecer novas pessoas, ensaiar um novo idioma – no navio viajavam cidadãos espanhóis e italianos, enfim, uma cidade em miniatura que só não fazia esquecer os laços familiares e sentimentais que ligavam o Manoel à sua ilha e à sua gente.

Da amurada do barco, vira desaparecer, à distância, primeiro, seus pais que estavam na sua despedida, a sua cidade e, por fim, as montanhas que, em anfiteatro, cercam o burgo.

À medida que o navio avançava para o alto mar, desapareciam entre a neblina rarefeita, os últimos picos das montanhas. Um último apito, o último silvo do navio, triste, pungente, dava o toque de despedida. Dificilmente encontraremos uma simbiose tão estranha como esta em relação à saudade e distância que aumentava mais e mais...

Uma dor difícil de amainar permaneceu assim, por horas, no coração de nosso personagem.

Mas, o ritmo da aventura, sem desligar seus laços ancestrais, dava o tom à vida, ao bulício que se antevia para seu futuro!...

Continua...


Eleutério Sousa

Esteira de espuma

O navio singrava rumo à América do Sul. A bordo, mais de 3000 passageiros, uma pequena cidade flutuante que se esparramava pelos conveses, corredores, beliches, piscinas, salas de jogos, refeitórios, cinema, etc. À popa, havia mesas de ping-pong onde se aglomeravam alguns passageiros disputando partidas animadíssimas.

A monotonia da viagem era quebrada por alguma onda mais forte que balançava desmedidamente o enorme navio de cerca de 200 metros de comprimento. Na sua esteira, como que abrindo o mar em dois, um rastro de espuma branca estendia-se por entre as águas azul-esverdeadas que se confundiam com os matizes infinitos do fimamento.

A princípio, o rastro prateado, espesso, leitoso, parecia não se desfazer. À medida que se distanciava o barco, refazia-se o mar como que diluindo os pensamentos do Manoel, pensativo e ainda com saudades apertando o peito. Olhando a espuma que, sabia, indicava o rumo da sua ilha, uma lágrima confundia-se na sua memória, incisiva e persistente, não deixando no olvido a família que lá deixara e, em ultima análise, as fortes lembranças de sua meninice!...

O mar era o elo. Ao mesmo tempo que “cortava” seu cordão umbilical, fazia-o homem e a cuidar-se se próprio; e, na rota para o sul, uma cidade flutuante, cheia de vida, o apartava dos seus e se via em um solilóquio que teimava em não desaparecer...


Eleutério Sousa

Campanha da Fraternidade

Totum consumatum est...!

(Tudo está consumado)

As coisas parecem estanques. Há uma proposta e a sociedade procura cumpri-la como uma missão burocrática.

“Escolhe, pois, a vida!”. Este tema, de tão profundo, não deve, nem pode ser burocrático. Assim como a missa. Assim como a vivência cristã”. L’habit ne fait pas le moine” – “O hábito não faz o monge”, o cristão deve fazer parte das “pedras vivas” atuantes na sociedade.

Deve ser aquela pedra angular que sustenta o “edifício” da cristandade. Deve ser o sal que condimenta e conserva. Enfim, deve estar possuído do Espírito Santo para dar entusiasmo e fortaleza ao meio onde vive.

A doutrina da Igreja, em alguns assuntos, entre eles a “vida”, é vista por muitos cristãos como retrógrada, medieval. Porque não promover conferências “de vida”, “de juventude”, para conscientizar os cristãos?

Uma história de 2000 anos só sobrevive porque está sempre em consonância com o seu tempo. Não há como negar suas raízes. Cristo é o mesmo.

Heri, hodie et semper! (Ontem, hoje e sempre)

Feliz páscoa a todos!


Eleutério Sousa


Uma mulher especial

Era ainda uma menina de 17 anos. Aceitara a incumbência de tornar-se mãe de um ser especial. Para qualquer mãe, seu menino é um ser especial. Imagino os sonhos que tinha enquanto fazia os deveres domésticos. Sim, porque apesar de jovem, ela era uma perfeita dona de casa. Seu marido, a apoiava incondicionalmente.

A jovem soube que uma parente estava grávida e prontificou-se a ir até sua casa e prestar-lhe toda a assistência que, neste caso, é importantíssima.

Chegou o dia de ser mãe. Uma viagem inoportuna, mas necessária, fez com que tivesse seu neném fora de sua cidade natal. Ela não reclamava, não se lastimava, porque, acima de tudo, tinha fé, muita fé no seu Deus!

Foi posta à prova, uma prova difícil de superar. Não entendia porque o maioral do lugar perseguia seu filho, ainda menino. Mas, decidida, aconselhada por alguém, buscou outro país para viver. Os planos feitos tinham que esperar! A escola, outra língua! Como superar tudo, meu Deus!

O pesadelo acabou com a morte do maioral. De volta a casa, sua família alcançou a paz e seu menino crescia em sabedoria e piedade.

Mais tarde, já feito homem, seu filho foi cumprir a sua missão. A sua mãe, ciente do que estava acontecendo, acompanhou-o, como anjo protetor, como mãe de todos os que necessitavam de conforto e paz!

Aí, o prenderam e o mataram! Que mulher poderia aceitar que isso acontecesse sem revolta interior? Mas ela confiava nos planos do Criador. Tinha recebido uma mensagem, havia muitos anos e acreditava nela: Tu serás mãe do ALTÍSSIMO! Seu filho, na hora da morte, a deu como mãe para nós que, em última análise, éramos os culpados de sua morte! Que coração magnânimo!

Oração: Te aceitamos, mãe, embora indignos. Que benção ter uma mãe como esta, solícita intercessora, cuidadosa, amorosa! Nossa mãe, minha mãe, Mãe de Deus!

Nossa igreja a tem como um dos seus maiores tesouros: Mãe da Igreja. Sob seus olhos amorosos vamos singrando este vale de lágrimas.

Mãe, Maria. Dai-nos a tua benção! Tu que dignificas em grau extremo o sexo feminino. No dia da mulher, Maria, te amamos, Mãe!


Eleutério Sousa